Reticências

  Era domingo, sol fraco, vento forte, lá estava ela assentada em um banco de praça, comendo um cachorro quente e olhando para mim... Mordia como quem me queria. Sorria como quem me queria. Insinuava-se como quem me queria.
  Era domingo, sol quente, vento fraco, estava eu saindo do carro em direção ao banco quando a avistei ali sentada, olhei como  quem a queria, flertei como quem a queria, cheguei como quem a queria.
  Era domingo, sol, vento, lá estávamos nós entrando no carro, chegando no motel, beijando como queríamos, entrando como queríamos, saindo como queríamos, suando como queríamos.
  Era domingo, céu escuro, noite chuvosa, lá estava eu chegando em casa, sem a carteira. A vadia me roubara! Levara consigo todo o dinheiro que havia sacado. Já não a veria mais, certamente estaria dando outro golpe.
  Era domingo, céu chuvoso, noite escura, lá estava ela, sentada num bar do outro lado da cidade, tomando um drink, olhando para outro. Bebia como se o quisesse, sorria como se o que quisesse, insinuava-se como se o quisesse...